06 novembro 2005

Eloquência

Eloquência é uma palavra que perdeu o seu sentido original. Muitos falam dela de modo pejorativo. Há, porém, boas razões para vê-la dentro de um contexto mais amplo, em que se privilegiam o convencimento e a persuasão daqueles que falam em público. Isto porque, todo o orador, quando fala, quer ser ouvido. Caso contrário, para que falar em público?

Na antiguidade clássica grega a palavra falada era muito exaltada. Os gestos, as posturas, a teatralização e as demais formas de se expressar nada mais eram do que modos diferentes de atrair o público. Naquela época havia um grande prazer em assistir a uma peça oratória, porque esta era a única forma de transmitir conhecimentos. Os livros e a gama enorme dos meios de comunicação de massa que temos nos dias que correm, principalmente os recursos da Internet, eram inexistentes.

Deleitar o espírito dos ouvintes era o principal fim de todas as orações. Nesse mister, há o exemplo de Demóstenes, o imortal ateniense, muito citado nos livros e cursos de oratória. Desde o seu nascimento, fora tolhido por graves deficiências, inclusive a gaguez. Como tinha a ambição de transmitir aos outros os seus pontos de vista, andava na praia com pedrinhas na boca, no sentido de melhorar a nitidez de sua voz. O seu esforço foi tanto que não demorou muito tempo para se tornar o maior orador de todos os tempos.

Observe o que alguns pensadores disseram sobre o tema: para Pascal, "A eloquência é a pintura do pensamento"; para E. Ferri, "A eloquência é o talento de transmitir com força ao espírito dos outros, o sentimento de que o orador está possuído"; para Dammien, "A eloquência é a arte de dizer bem aquilo que é preciso, tudo quanto é preciso, e nada mais do que isso"; para Rui Barbosa, "A eloquência é a sinceridade na ação".

Ilustremos o tema com uma comparação entre o orador e o pintor. O pintor, ao dar vazão ao seu sentimento artístico, fá-lo para si mesmo, para agradar ao seu ego, à sua concepção de arte; o orador, não. Ele tem que falar para atingir a quem ouve, isto é, à plateia. Pergunta-se: como será ouvido se não conseguir prender a atenção de quem o escuta? Este deve ser o grande exercício do orador: agradar aos olhos e aos ouvidos do público. Para tal finalidade, precisa de persuasão e de eloquência.

A eloquência não é falar fácil e corretamente, impressionar os sentidos alheios, mas expressar o pensamento próprio, com graça, equilíbrio, harmonia e muita perspicácia de tempo e lugar.

 

Escrever

Escrever e falar podem ser sempre aprimorados. Existe alguma técnica específica? Como proceder? Há livros, cursos, professores e a Internet. Todos estes veículos de comunicação oferecem-nos sugestões valiosas, mas o trabalho maior pertence a nós mesmos. Quer dizer, se quisermos escrever temos de pegar a caneta, o papel e colocar mãos à obra. Em outras palavras, temos de aprender a escrever, escrevendo. Vejamos algumas dessas regras.

Coerência, clareza e concisão são as primeiras recomendações. A coerência diz respeito ao fluxo de ideias. A frase anterior tem que ter relação com a presente e esta com a seguinte, pois se não seguirem esse fluxo lógico, o leitor terá dificuldade para entender a lógica de um raciocínio. Para obter a clareza, as frases não devem ser rebuscadas, nem conter ambiguidade ou mesmo a vaguidade. Concisão é exprimir muito em poucas palavras. A navalha de Ockham é digna de nota: "onde houver duas definições, a que tiver menor número de palavras deve ser a preferida".

Compromisso com a verdade. Todos os que se colocam como propagadores da informação devem fazê-lo dentro de uma ética profissional, ou seja, evitar a perda de tempo do leitor. O mesmo se aplica ao discurso falado. Sobre esse mister, há uma advertência interessante: "aquele que não fosse sincero com o ouvinte ou leitor deveria morrer na cadeira elétrica". O tempo é o bem mais precioso que possuímos. Não deveríamos desperdiçá-lo com palavras vãs, discurso oco e histórias que não contribuem para o engrandecimento moral e espiritual do ser humano.

A introdução é um entrave? Em ensaios, ou trabalhos mais longos do que uma simples página, temos dificuldade de fazer a introdução. Os entendidos no assunto instruem-nos a deixar essa fase para o final do trabalho. Ao mesmo tempo, aconselham-nos a anotar o transcurso do pensamento, sem nos preocuparmos com a sua apresentação. Depois que tudo estiver documentado, forma-se naturalmente em nossa cabeça as palavras introdutórias ao tema. Basta apenas colocá-las no seu devido lugar.

A limitação de palavras imposta ao tema é difícil de ser seguida? Não desistamos. Se nos pedirem x linhas, devemos entregá-lo em x linhas, nem mais e nem menos. Como conseguir? Façamos por etapas: escrevamos o primeiro esboço; depois, vamos complementando-o. O computador auxilia, pois podemos ir acrescentando ao que já estiver digitado. Observe a montagem de um filme em que o diretor focaliza um tema específico e vai criando imagens acerca daquele tópico. A criatividade consiste nisso: ampliar as informações acerca de um mesmo tema.

Busquemos a coerência conosco mesmos. Ao escrever, escrevamos para informar ou educar, mas nunca para nos mostrarmos superiores aos outros.

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Palavras e Expressões dos Modernosos

O modernoso gosta de “atingir patamares”, “alavancar processos”, “desenvolver atitudes proativas” e “otimizar resultados”. Para ele, é preciso “tirar decisões”, “priorizar espaços”, “encontrar soluções” – “a nível de país”. E mais

Ele não vive sem o “beach-soccer”, o “delivery”, o “coffee-break” e o evento “in-company”, atividades que devem melhorar o “empowerment”.

Ele não convive; “vivencia”. Ele não anexa; “atacha”.

Para o perfeito “mix”, falta-lhe adotar “randomicamente” atitudes emblemáticas “enquanto ser humano”.

OLIVEIRA, J. P. Moreira de, MOTTA, C. A. de Paula. Como Escrever Melhor. São Paulo: Publifolha, 2000.

 

28 outubro 2005

Símbolo e Comunicação

Símbolo - do gr. symbolon = neutro - vem de symbolé‚ que significa aproximação, ajustamento, encaixamento, cuja origem etimológica é indicada pelo prefixo syn, com e bolé, donde vem o nosso termo bola, roda, círculo. Referia-se, deste modo, à moeda usada como sinal. O símbolo é, pois, tudo quanto está em lugar de outro. Comunicação - do lat. communicatio, de communis = comum -, ação de tornar algo comum a muitos. É o estabelecimento de uma corrente de pensamento, dirigida de um indivíduo a outro, com o fim de informar, persuadir ou divertir.

A comunicação de uma ideia deve estar inserida dentro do contexto simbólico do ouvinte. Observe, por exemplo, o anúncio de uma nova descoberta científica a um grupo de indígenas. É preciso muito tato e muita sabedoria para fazê-los entender, visto pertencerem a um universo de valores diametralmente oposto ao discurso científico. Às vezes, essa distância é tão grande, que torna inviável qualquer comunicação.

O homem é um animal simbólico. Fabrica mitos, ídolos, salvadores da pátria, e vive de acordo com essas concepções. Há, na Filosofia, a simbólica, ou seja, uma matéria voltada para o estudo da gênese, do desenvolvimento, da vida, da morte e da ressurreição dos símbolos. A simbólica tem por objetivo descobrir o que está escondido atrás dos ritos e dos dogmas sob emblemas tão diversos. Por isso, utiliza-se do método dialético-simbólico, no sentido de, através da analogia, tornar compreensível o processo mágico, as fantasias e os mistérios.

O símbolo é a espécie e o sinal o gênero. Quer dizer, todo símbolo é sinal, mas nem todo sinal é símbolo. Para que o sinal seja símbolo ele tem que estar no lugar de outro. O sinal pode ser apenas convencional, arbitrário. O símbolo, não. Este deve repetir, analogicamente, algo do simbolizado. Além disso, o símbolo é meio de acesso às realidades pessoais, misteriosas e inacessíveis a uma observação direta e imediata. Por exemplo: o signo bandeira simboliza os vários graus de heroísmo.

O homem, praticamente, não dispõe de um símbolo mais privilegiado para a comunicação do que a palavra. Imagine um indivíduo feito uma estátua. Nessa circunstância, é difícil sondar-lhe o pensamento e o sentimento. Porém, ao se expressar, torna-se logo conhecido. Além da transmissão de conteúdo, a palavra é muito mais um instrumento de comunicação espiritual: faculta ao ouvinte a elaboração de novas ideias sobre o discurso proferido.

A palavra é um dom divino. Revistamo-la da simbologia necessária, mas não nos esqueçamos de que ela deve ser usada para instruir, educar e elucidar as almas que nos rodeiam.

23 outubro 2005

Leitura Eficaz

"Quem sabe ler, sabe a mais difícil das artes."

Toda a leitura deve ser feita em função do tempo, que é escasso e precioso. Por que deixar perpassar pelos nossos olhos obras ruins, se temos a possibilidade de nos entreter com as boas? A. W. Schlegel diz: "Lede com empenho os antigos, os verdadeiros e autênticos antigos: o que os modernos dizem a seu respeito, não significa muito"; Samuel Rogers recomenda: "Sempre que saia um livro novo, leia um velho"; Schopenhauer enfatiza: "Para ler coisa boa, uma das condições é a de não ler coisa ruim: pois a vida é breve, limitados nosso tempo e nossas forças".

Muitas vezes, por falta de critério, deixamo-nos envolver pelas publicações do tipo best seller. É preciso destacar os objetivos pelos quais o livro foi escrito. Quando um autor procura exclusivamente o lucro, ele pode simplesmente escrever o que o público quer ler e não o que público deveria ler, ou seja, aqueles livros que o conduzam a uma reflexão mais profunda sobre o seu "eu" profundo. Os livros de autoajuda, por exemplo, têm boa tiragem porque retificam o nosso modo de pensar.

A frase de Schopenhauer: "Quando lemos, outra pessoa pensa por nós", explica-nos o alívio que sentimos quando nos pomos a ler. O nosso pensamento se contrai e deixa que outro nos traga uma consolação, uma intuição ou uma inspiração para a solução de nossos problemas. Contudo, convém não nos ocuparmos exclusivamente da leitura, porque poderemos ficar desorientados para a vida prática. Einstein nos diz: "Quem lê demais e usa o cérebro de menos, adquire a preguiça de pensar". Exemplo: durante o dia lemos romance; à noite assistimos às novelas. Será que estamos exercitando o nosso pensamento?

Se "quem sabe ler, sabe a mais perfeita das artes", haveria uma leitura correta? Como exercitá-la? A boa leitura pressupõe o atendimento da necessidade do leitor. Assim, para cada necessidade haverá um tipo de leitura: a leitura para o estudo será diferente da leitura para prestar um exame, da mesma forma que esta será diferente da leitura para recreação. Em termos gerais, porém, a leitura correta é aquela que nos faz pensar sobre o que foi lido, no sentido de nos forçar a construir aquele tipo de conhecimento dentro de nós mesmos.

Uma leitura, para ser eficaz, deve ser ruminada, ponderada, considerada. Se, em toda a leitura séria, pudéssemos colocar o assunto com nossas palavras, fazer um resumo de acordo com o nosso modo de sentir, então teríamos feito daquele livro, daquele autor um estimulador do nosso progresso moral e intelectual. Lembremo-nos da frase de Briesen: "Muita gente que leu muitos livros se vangloria da sua força espiritual, mas trata-se apenas de corpulência espiritual". Quer dizer, a leitura não foi acrescentada ao sentimento.

Tenhamos em mente o valor do tempo. Saibamos escolher leituras que realmente concorram para a nossa formação intelectual e moral. A vida é muito curta para os pensamentos mesquinhos.

Fonte de Consulta

SCHOPENHAUER, A. Sobre o Ofício do Escritor. Apresentação e notas de Franco Volpi. Tradução de Luiz Sérgio Repa (alemão) e Eduardo Brandão (italiano). Revisão de tradução de Karina Jannini. São Paulo: Martins Fontes, 2003 (Coleção breves encontros).

 

21 outubro 2005

O Orador e o Tédio

Tédio - do latim taedium significa aborrecimento, fastio, nojo, desgosto. O tédio surge quando há informação a menos devido ao desinteresse ou à falta de compreensão, e quando esta situação não se pode eliminar. Nessa altura, a atenção vira-se para o decurso do tempo na consciência, enquanto, por outro lado, nem sequer pensamos no tempo quando algo é interessante.

tempo é uma variável de difícil mensuração. Deve-se levar em conta o tempo cronológico ou o tempo vivencial? Observe que em termos do tempo vivencial, uma pessoa de quarenta anos pode ter vivido mais do que uma de oitenta. O tempo surge quando não sabemos o que fazer dele. É precisamente nesse momento que o tédio penetra em nossos pensamentos. Na vivência alegre e feliz não há tédio, porque não percebemos o tempo passar.

O que tudo isso tem a ver com o discurso oratório? Suponha um orador que não saiba concluir o seu discurso, que queira explicar tudo nos mínimos detalhes, que fale tão rapidamente que não conseguimos acompanhar o seu raciocínio. Por outro lado, imagine um ouvinte sentado na primeira fila querendo ausentar-se da palestra e, por cortesia da educação, permanece fiel até o fim da exposição. O que se lhe acontece? O tédio penetra em sua mente.

tédio pode ser considerado, também, como a falta de ressonância entre a expectativa do tempo e o que realmente está sucedendo. Nesse sentido, o orador deve perscrutar o fluxo energético do auditório, e utilizar técnicas de persuasão, a fim de despertar o interesse para a questão a ser veiculada. Habituando-se a penetrar na profundidade do seu semelhante, terá mais chances de manter a motivação por aquilo que está desenvolvendo.

O orador deve ser uma pessoa ardente, aquela que sabe comunicar o verbo divino com entusiasmo e determinação. Deve, ao transmitir suas palavras, incendiar as almas com a chama da bondade, da caridade e do amor fraternal.

Fonte de Consulta

PÖPPEL, E. Fronteiras da Consciência, a Realidade e a Experiência do Mundo. Rio de Janeiro, Edições 70, 1989.

 

 

15 outubro 2005

O Discurso Político

discurso político fundamenta-se numa decisão sobre o futuro, ao contrário do discurso forense, que julga um fato passado. O estadista, objetivando alcançar o bem comum, concebe um estado ideal (futuro) contraposto ao real (presente). Por isso, a política é a ciência do possível, ou seja, daquilo que pode ser feito.

Os políticos, para melhor atrair a atenção dos ouvintes, valem-se da persuasão e da eloquência. Na persuasão ordenam os pensamentos, de tal modo, que os levam a aceitar seus pontos de vista de modo suave, habilidosamente; na eloquência, exaltam o otimismo, o entusiasmo e a vivência no paraíso terrestre, apesar das dificuldades aparentes. Por saberem que a mente humana condiciona-se melhor à afetividade, apelam mais à emoção do que à razão.

Na alegoria do mito da caverna, Platão descortina-nos novos horizontes para entendermos a essência do discurso político. A busca da verdade a que se empenhou o filósofo, fê-lo distinto dos homens que ficaram na caverna. De posse do conhecimento, sente-se na obrigação de anunciá-lo aos que lá ficaram. Temeroso de que não seja compreendido, cria o mito, isto é, atenua a verdade com o objetivo de ser aceito.

A cada nova eleição centenas de candidatos concorrem às diversas vagas disponíveis. Por conseguinte, serão muitos os discursos que teremos de avaliar. De que maneira podemos constatar a veracidade das teses expostas? Observando e fazendo contas. Suponha-se que haja a promessa de construção de casas próprias. Multiplica-se o número oferecido pelo custo de cada uma e compara-se com os recursos disponíveis. Aos defensores da moral, sondar-lhes o passado. E assim por diante.

O instante do voto é o momento propício para a substituição da classe política dirigente. Cada povo tem o governo que merece, diz o anexim. Somos um ente político, portanto com o poder de modificar a nossa sociedade. Reflitamos, pois, ao colocar um x neste ou naquele pretendente. Esta atitude, constante, em todos os eleitores, será suficiente para a mudança radical do quadro vigente. 

Desconfiemos daqueles que prometem "mundos e fundos". A humildade e a simplicidade cabem em qualquer lugar. Procuremos descobrir essas virtudes nas entrelinhas dos discursos. Agindo assim, teremos melhores condições de bem escolher aqueles que irão nos governar.

Fonte de Consulta

TRINGALE, D. Introdução à Retórica (a Retórica como Crítica Literária). São Paulo, Livraria Duas Cidades, 1988.

 

14 outubro 2005

Medo de Falar em Público

Medo – do latim metu – significa o sentimento de grande inquietação ante a noção de um perigo real ou imaginário. No âmbito da oratória, é a sensação de que se vai esquecer daquilo que se tem de falar, de não agradar ao público, de dizer coisa banais. Seus sintomas são: coração dispara, respiração torna-se ofegante, ondas de calor percorrem o corpo todo, as mão tremem, a voz fica embasbacada etc.

De acordo com a Psicologia e ciências afins, o medo do erro é normal e natural. Somente em 20% dos casos é possível encontrar algum trauma que justifique o surgimento da fobia. A naturalidade prende-se ao fato de nos sentirmos responsáveis por aquilo que estamos informando ao público. Como não queremos passar dados inverossímeis, a apreensão, a ansiedade gera-nos um pequeno desconforto, uma tensão, um nervosismo. Mas, tão logo se começa a falar, voltamos ao nosso estado normal.

No lado oposto, há o fóbico social. Este tem dificuldade de se relacionar, não consegue olhar nos olhos do seu interlocutor, conversar naturalmente com seu superior, apresentar ideias, compartilhar tarefas. "A característica mais marcante desse tipo de fobia é o medo que a pessoa tem do julgamento dos outros". O fóbico social geralmente é muito perfeccionista. Como é impossível agradar a 100% das pessoas ele prefere se omitir. Isola-se e, a cada dia que passa, vai ficando mais isolado. Isto tudo porque, quando não exercitamos os nossos dons, os mesmos nos serão tirados.

Os peritos na arte da oratória dão-nos algumas orientações: prepare-se com antecedência: vá para o evento com o máximo de informações possíveis; faça um roteiro e procure segui-lo; cheque todos os dados quantas vezes achar necessário; se não se sentir seguro, simule uma apresentação em frente ao espelho ou diante dos familiares; tenha consciência de que é impossível agradar a todos que irão ouvi-lo; antes de entrar em cena, procure relaxar. Você pode ouvir música, fazer exercícios respiratórios, rezar, meditar.

O medo é um verdugo impiedoso dos que lhe caem nas mãos, um inimigo traiçoeiro e forte que esmaga os poderosos e enfurece os fracos, um algoz impenitente que destrói tudo o que se lhe oferece, em fim é o agente de males diversos, que dizimam vidas e deformam caracteres, alucinando uns, neurotizando outros, gerando insegurança e timidez ou levando a atos de violência irracional. Mas se pensarmos em termos de um dever a cumprir de uma missão a ser levada a efeito, sem dúvida, conseguiremos diminuí-lo sobremaneira.

Lembremo-nos de que se o medo é um sentimento dos nervos, basta a simples reflexão para eliminá-lo. Contudo, se mesmo assim ele persistir, enfrentemo-lo face a face.

Fonte de Consulta

SILVEIRA, M. Você Tem Medo de quê? Revista Você, setembro de 2001, p. 54 a 59.

 

11 outubro 2005

Etimologia e Semântica

Etimologia - ciência que investiga as origens próximas e remotas das palavras e sua evolução histórica. Do grego étymon (étimo) vocábulo que é origem de outro. Semântica - estudo das mudanças que no espaço e no tempo, experimenta a significação das palavras consideradas como sinais das ideias: semasiologia; sematologia; semiologia. Do grego sëma-tos "sinal, marca, significação".

As contradições nos debates são muitas vezes fruto das diferentes interpretações que a mesma palavra oferece. Nesse sentido, Sócrates, filósofo grego da Antiguidade, orientava-nos para bem definir o termo antes de começarmos a discutir. Adquirindo o hábito de enunciar a terminologia correta, pouparemos o tempo que o grupo gasta na compreensão do seu significado.

A percepção do conceito pressupõe a superação do preconceito. Este caracteriza-se pela cristalização de certas ideias, sem fundamento racional e científico. Se permanecermos "fechados" no passado, perderemos as oportunidades de evolução que o curso da vida nos oferece. Assim, uma postura aberta ao novo cria em nós uma mentalidade livre do espírito de sistema.

Etimologia e semântica vêm a calhar. Para bem exprimirmos o conteúdo do nosso pensamento, temos de consultar muitas obras literárias. Desta forma, a lembrança de que devemos ler com lápis, papel e dicionário à mão é muito oportuna. Isto porque, à medida que a dúvida surge, temos condições de dirimi-la e melhorar a compreensão daquilo que estivermos estudando.

Aprender o "sinal" correto da ideia é uma obrigação, desde que queiramos bem expressar o nosso pensamento. Contudo, não devemos nos fiar inteiramente neste objetivo, porque transmitimos muito mais pelo que somos do que pelo que dizemos. Reconheçamos que a linguagem do pensamento é universal e veiculada através das ondas mentais. Voz, gestos e dicção auxiliam, mas a essência é a nossa conduta moral.

Aliemos ao estudo a meditação e a inspiração, a fim de melhor penetrar no âmago do conhecimento superior.

09 outubro 2005

Direção e Reclamação

O dirigente pode, num único dia, receber uma série de reclamações: descontentamento de um funcionário, ataques pessoais, críticas descabidas, pedido de empréstimo, aumento de espaço para determinado trabalho etc. Os diretores menos avisados ficam tensos, de mau humor, apáticos; os mais avisados, respondem positivamente ao desafio. Pergunta-se: Como melhorar o nosso relacionamento humano sem causar o estresse excessivo?

As reclamações são justas? Analisadas friamente, elas sempre deixam um rastro de justiça. Por quê? É que cada um ajuíza o fato de acordo com sua ótica pessoal. Nesse sentido, toda a vez que os nossos interesses pessoais veem-se prejudicados, pomo-nos em guarda para defendê-los. A nossa primeira reação é achar que o outro está tentando nos prejudicar. Por isso, reclamamos, fazemos barulho, a fim de que o nosso espaço seja resguardado.

A relação entre a parte e o todo deve ser enfatizada. Nem sempre somos capazes de analisar o fato globalmente. Muitas vezes falta-nos informação; outras, compreensão; mas a pior de todas é não querer entender o todo. Se nos julgamos lesados, dificilmente pensamos nos benefícios que daí dimanam. Só sintonizamos o aspecto negativo. Mas é preciso que cada um esforce-se para ver holisticamente, ou seja, sopesar os prós e os contras de cada situação que se nos chega à mente.

Quais são as reclamações que o dirigente deve atender? As que ele quer? Não. Ele deve atender somente àquelas, que depois de analisadas segundo um juízo crítico e não de crítica, for útil ao interesse público. Ninguém é detentor da verdade global. Às vezes, é útil obedecer ao hierarquicamente inferior, pois este pode possuir uma parcela maior dessa verdade relativa. Isto não quer dizer que relaxamos o comando, mesmo porque o líder é aquele que mais obedece.

A autoridade deve perceber as coisas tais quais são. Querer defender pontos de vista, quando a razão nos incita a ceder é perder tempo e liderança. O verdadeiro líder é aquele que reage de forma rápida e eficiente ao que se está acontecendo agora. Não deixa para amanhã. Quando nos compenetrarmos dessa verdade, vamos entendendo que não fomos colocados à frente dos outros para o vão prazer de mandar, mas para o perfeito melhoramento de nós mesmos.

Escutemos pacientemente as reivindicações de nossos comandados. Somente assim, seremos capazes de distinguir o que deve daquilo que não deve ser atendido.

 

 

04 outubro 2005

A Sintonia entre o Orador e o Auditório

Sintonia - do grego syntonia - significa acordo mútuo, reciprocidade. Em Psicologia é o estado de quem se encontra em correspondência ou harmonia com o meio. Orador - do lat. oratore -, aquele que ora um discurso em público. Auditório - do lat. auditoriu -, conjunto de ouvintes que assiste a algum discurso.

indutância, a capacitância a ressonância e a própria sintonia em eletricidade oferecem-nos campo para a analogia. Valendo-nos da ressonância, coloquemos quatro pêndulos (dois de comprimento curto e dois de comprimento longo) e movimentemos um deles. Imediatamente, o pêndulo de mesmo comprimento começará a oscilar querendo entrar na mesma freqüência daquele que foi acionado, enquanto os outros dois permanecem fixos. Como interpretar psicologicamente esse fenômeno mecânico?

discurso oratório pressupõe o emissor, a mensagem e o receptor. O orador é o indutor, ou seja, o pêndulo emissor. À sua frente os ouvintes. Para que seja ouvido deve entrar em sintonia com o auditório. Mas, o que é entrar em sintonia com o público? é captar o ponto médio dos ouvintes e trabalhar em cima dele. Pois, se estiver muito acima da média não será entendido e, muito abaixo, tornar-se-á desinteressante.

impacto interpessoal define o ajustamento entre o orador e o público. Para que o orador desperte a atenção consciente dos ouvintes, deve falar somente aquilo que interessa ao auditório. Pressupor público inteligente e falar como se estivesse na condição de ouvinte auxiliam sobremaneira a preparação de nossa peça oratória. Consequentemente, criaremos um campo mental harmonioso entre nossa pessoa e aqueles que nos ouvem.

manutenção do interesse durante a exposição exige diversos cuidados. Primeiramente, o preparo do orador. Este deve ter em mente a sintonia com Deus, consigo próprio e com aqueles que irão ouvi-lo. Em segundo lugar, a preparação do tema. Montar e seguir um roteiro, deixando brechas para a criatividade do momento, em que os Benfeitores Espirituais poderão inspirar-nos o pensamento correto para atender às necessidades do ambiente.

Apliquemos todas as nossas potencialidades para a compreensão do tema a ser exposto. A naturalidade de nossa expressão garantirá a verdadeira sintonia com o público que nos assiste.

 

03 outubro 2005

Ensino e Aprendizagem

Ensino - do lat. "in + signare" = marcar com um sinal - significa transmissão de conhecimentos, de informações ou de conhecimentos úteis ou indispensáveis à educação ou a um fim determinado. Aprendizagem - do lat. apreender -, aquisição de conhecimentos ou habilidades. Para que possamos maximizar a relação ensino-aprendizagem, convém adotarmos uma atitude desarmada e sem preconceitos.

Emissormensagem e receptor são os elementos básicos no processo de ensino. O emissor deve revestir-se de técnicas de oratória, recursos audiovisuais e métodos de ensino, a fim de tornar a mensagem persuasiva. O receptor, por sua vez, deve desenvolver a capacidade de atenção e concentração, para absorver adequadamente as informações recebidas.

Produção do saber é a finalidade do ensino. Professores e oradores revestem-se de técnicas de oratória, educando a voz, postura e gestos para melhor atrair o público. Algumas escolas criaram a "metodomania", isto é, tudo tem que ser ensinado segundo um dado método: Piaget, Montessori, Pestalozzi e outros. Os métodos de ensino auxiliam, mas somente o que carregamos dentro de nós conseguimos transmitir aos demais.

discurso didático deve ser a tônica do ensino. O professor quando descreve, interroga e avalia tem um objetivo: produzir conhecimento. Evita, assim, o discurso ordinário, que é a conversação causal e espontânea. Importa marcar o aluno com um sinal positivo, ou seja, obrigar o aluno a pensar profundamente no que lhe foi transmitido.

A vocação do estudante deve ser sempre ponderada pelo instrutor. Segundo a psicologia, não há dois indivíduos iguais, nem tampouco dois grupos idênticos. A peculiaridade de cada situação exige soluções criativas. Prestando atenção a esses pormenores, consegue-se educar com êxito.

Ensinando, burilemos nossas palavras; aprendendo, eduquemos nossos olhos e ouvidos. Tornando-nos conscientes desta conduta, aumentaremos o rendimento no processo de ensino. Aprendendo mais em menos tempo, liberaremos nossas energias mentais para outros campos de interesse do espírito.

Fonte de Consulta

NÉRICE, I. Educação e Ensino. São Paulo: Ibrasa, 1985.

KNELLER, G. F. Introdução à Filosofia da Educação. Rio de Janeiro: Zahar
Editores, s.d.p.

MORAIS, R. O Que É Ensinar. São Paulo, E.P.U., 1986.


02 outubro 2005

Discurso

Discurso - do latim discursu(m)- significa ação de correr por ou para várias partes. O termo comporta polivalência de sentido. Em oratória, designa a elocução que visa comover e persuadir; na esfera dos estudos linguísticos, representa a "sucessão coordenada de frases"; em trabalhos de cunho científico, assume a denotação de "tratado", "dissertação", como, por exemplo, o Discurso do Método de Descartes; em filosofia, distingue-se o teor "discursivo" do "intuitivo".

estrutura do discurso fundamenta-se no exórdio, na argumentação e na peroração. Embora tenhamos muitas técnicas para bem iniciar e terminar uma alocução, não resta dúvida que a argumentação é sua trave mestra. Esta é a parte em que o indivíduo mostra o seu conhecimento, a profundidade de seu pensamento. Para que haja comoção e persuasão, os princípios elaborados devem ser lógicos e coerentes.

Expressamo-nos através da palavra pensada, falada ou escrita. A sonoridade da voz e a dicção perfeita auxiliam a propagação de nosso pensamento, porém o que realmente conta é a essência daquilo que queremos transmitir. Voz adocicada e gestos delicados podem, muitas vezes, encobrir o verdadeiro caráter de um indivíduo. Contudo, se nos habituarmos a olhar criticamente, teremos condições de separar o joio do trigo.

Operações intermediárias encadeadas caracterizam o adjetivo "discursivo" oposto a "intuitivo". Urge reconhecer que a descoberta nas ciências e nas artes não segue uma sequência de operações elementares parciais e sucessivas. Ela, muitas vezes, vem abruptamente. A ordenação das ideias surge "a posteriori" como elemento para tornar claro aquilo que se apreendeu de modo vago e obscuro.

O "discurso do homem" é a manifestação da sua personalidade. Melhorando o teor de nossos argumentos, mudaremos o conceito que os outros formam de nós. Leitura metódica, estudo constante e reflexão frequente auxiliam sobremaneira a aquisição de novos valores da vida. Sem esforço perseverante da vontade, nada de útil conseguiremos amealhar em prol de nosso passivo intelectual.

Escolhamos com critério os alimentos material e espiritual, a fim de que o nosso "discurso" seja repleto de força, determinação e otimismo.

Fonte de Consulta

TRINGALE, D. Introdução à Retórica (a Retórica como Crítica Literária). São Paulo, Livraria Duas Cidades, 1988.





01 outubro 2005

Ação e Vida em Equipe

Toda a ação, por mais simples que seja, é precedida por um pensamento, por um objetivo. Assim, para o nosso próprio bem, convém estabelecer metas claras, em que se privilegiam o objeto e não as pessoas, a fim de que possamos ser úteis ao bem comum.

A orientação para a ação deve ser feita consoante alguns princípios, entre os quais, o de exercitar o esforço nos setores que ficaram disponíveis, o de pensar com grandeza mesmo que o nosso papel seja secundário, o de se preocupar com a plenitude da vida e não em simplesmente fazer carreira. Dentro desse contexto, a prudência é de substancial importância, pois nos dará a chave para sermos mais eficientes, mais sabidos, não em pormenores da especialização, mas no domínio global da tarefa ou da matéria que estivermos tratando.

A vida em equipe deve ser enfatizada. Logicamente haverá rusgas, discussões, admoestações, situações próprias do funcionamento de qualquer grupo de trabalho. Isso não deve paralisar as boas obras; seria muito mais interessante se cada qual pudesse conscientizar-se de que dele não sairá a última palavra sobre uma determinada decisão. Deveríamos, sim, dar a nossa contribuição, independentemente de recompensas futuras, mas pelo simples fato de não deixarmos estagnados nem a vontade e nem o pensamento.

A força, o combate e a eficiência devem ser exercitados a todo o momento, pois não são poucos os estímulos contrários à realização do bem comum. Um doa uma vultosa quantia em dinheiro e julga-se dono da organização; o outro empresta a sua firma para trabalhos dentro da entidade e julga-se credor de regalias; o outro ainda consegue privilégios junto aos órgãos governamentais e julga-se merecedor de prestígio. É difícil não ser influenciado por esses fatores externos, contudo a força da vontade deve superar todos esses entraves.

humildade, fundamento de todas as virtudes, não poderia faltar nessa reflexão sobre o princípio da ação. Primeiramente, não deveríamos confundi-la com a subserviência, que é uma atitude dos fracos de espírito. Na realidade, a humildade deveria propiciar-nos condições para expressarmos o nosso próprio valor, nem para mais e nem para menos, pois qualquer excesso prejudica o bom desenvolvimento da personalidade humana.

Tenhamos em mente o objeto e sempre estaremos com razão. Agindo assim, granjearemos cada vez mais amigos solidários com o bem comum.

Fonte de Consulta

LEBRET, L. J. Princípios para a Ação. São Paulo, 6. ed., Duas Cidades, 1965.