26 junho 2008

Educar os Ouvidos

"Dois olhos, dois ouvidos, só a boca que não tem par. Por isso, é mais prudente ver ouvir do que falar".

Ouvir é solidarizar-se com o próximo, é prestar o devido respeito à sua personalidade. Quem ouve pratica a caridade dos ouvidos, pois os empresta a quem fala. A caridade de ouvir, porém, deve ser espontânea, fazendo parte do desenvolvimento integral do ser humano. Reflitamos sobre a arte de ouvir, muito esquecida nos dias que correm.

Ouvirmo-nos mutuamente é um aprendizado constante. As escolas ainda não perceberam essa verdade, pois dão mais ênfase ao ler (usar os olhos) do que ao ouvir. Esquecemo-nos de que passamos muito mais tempo ouvindo do que falando. E, mesmos sozinhos, estamos ouvindo a voz de nossa consciência, que é como algo que fala ao nosso ouvido, ao nosso cérebro. É na alteridade que os seres humanos se complementam. Assim, podemos aprender muito ouvindo o trabalhador braçal, o arquiteto e também o homem religioso.

Aristóteles, em sua Metafísica, deu muita importância ao olhar, mas não se descuidou do ouvir. J. Grimm, por sua vez, afirma que "O olho é um senhor, o ouvido um escravo, aquele olha em redor, para onde ele quer, este acolhe o que a ele é levado". Daí, a tirania do olhar desenvolvida no ocidente. A religião, ao contrário, procurou atingir os ouvidos dos seus fiéis. Observe que Martinho Lutero, bem como todo o movimento protestante posterior, enfatizou a dimensão do ouvir a palavra em oposição à veneração e contemplação da imagem.

O ouvido é a porta de entrada às orientações espirituais. Para captarmos, porém, as vozes dos Espíritos superiores, há um requisito básico: fazermos silêncio interior e exterior. Pergunta-se: como os Espíritos de luz podem se comunicar conosco, se permanecemos o tempo todo presos às necessidades materiais da subsistência física? É preciso reservar alguns minutos do nosso precioso tempo para o cultivo de nossa vida espiritual. Para tanto, convém escolher dia e hora, mantendo-os disciplinadamente.

Uma amizade deve ser regrada pelo ouvir e pelo falar. Muito mais pelo ouvir. Por que? Quando ouvimos o outro, criamos uma empatia, que é "entrar dentro do outro", "sentir as suas emoções". A simpatia (união das emoções) e a antipatia (oposição das emoções) não auxiliam muito, porque deturpam o verdadeiro sentimento, ora influenciado pelo otimismo exagerado, ora pelo pessimismo perverso. Cabe-nos, no exercício do ouvir, eliminar paulatinamente os dogmas e os preconceitos.

Ouçamos atentamente o que o nosso irmão tem a nos dizer. Ele não foi colocado em nosso caminho por acaso. Percebamos, antes, o tipo de ensinamento ele está nos transmitindo.

 

 


Nenhum comentário: