27 junho 2008

História da Palavra

Um estudo sobre a história da palavra leva-nos naturalmente a questionar a sua origem: como surgiu? Em que época? Por que o ser humano precisa da palavra? O que a palavra difere da comunicação animal? O homem passou progressivamente do grunhido à articulação da palavra ou foi dotado dela logo de início? Há dificuldade em responder a essas perguntas. As pesquisas antropológicas pouca luz nos oferecem. O desconhecimento da origem não nos impede de classificá-la em três estádios, de acordo com as condições sociais vigentes: democracia, individualismo e recuo da violência.

A sociedade pré-histórica e o mundo primitivo dão-nos algumas informações sobre o uso da palavra. O homo sapiens sapiens, de 100 mil anos atrás, por exemplo, vivia da caça e da pesca, num clima propício às geleiras. Em vista disso, surgiram os povos nômades que, uma vez explorada uma região, partiam imediatamente para outra. Nesse estádio da evolução, os "estilos gráficos" são apontados como uma das formas de comunicação. Além disso, ao contrário da sociedade moderna, dominada pela imagem, a palavra oral é a que mais se utilizava naquela época.

Em termos históricos, a sociedade grega da Antiguidade oferece-nos as condições necessárias – a democracia – para a verdadeira manifestação da palavra oral. Foi no regime democrático que a téchne rhetoriké, a "arte de convencer", a arte da manipulação da palavra como instrumento do "parecer" desenvolveu-se rapidamente. Nesse regime, a palavra era um meio de igualdade social, pois todos tinham o direito de expressar o seu pensamento. Daí, a figura proeminente do sofista, o artífice da argumentação, que ensinava as pessoas a bem conduzir uma discussão.

Na Idade Média, a democracia cede espaço ao absolutismo. A religião tem um domínio amplo sobre todas as atividades, inclusive as econômicas. É o regime feudal, em que as pessoas viviam isoladas, fechadas em seus feudos. Os escolásticos abusavam da palavra, principalmente pela disputatio. Posteriormente, surgiu a Renascença, fator estimulador do individualismo – o segundo estádio do uso da palavra. Nesse período, as Confissões de Santo Agostinho abre caminho para a metáfora da interioridade: cada pessoa é única e a sua palavra, também única, reflete a sua interioridade.

A característica das sociedades modernas é o recuo da violência, o terceiro estádio do uso da palavra. A ênfase histórica é dada às sociedades modernas, mas nada nos impede de observá-la ao longo do tempo. Na tábua dos Dez Mandamentos, está implícito um verdadeiro combate à violência. O "não matarás", o "não roubarás" e o "não cobiçarás a mulher do próximo" são normas para coibir a violência da época. Os regimes democráticos da atualidade propiciam, através da discussão de seus legítimos representantes do povo, as condições necessárias para debelar a violência que graça em todas as esferas sociais.

A palavra é força propulsora. Com ela podemos dominar, aprisionar, matar, mas também libertar, enaltecer e fazer as pessoas direcionarem os seus pensamentos para a verdade e o progresso de si mesmas.

Fonte de Consulta

BRETON, Philippe. Elogio da Palavra. Tradução de Nicolas Nyimi Campanário. São Paulo: Loyola, 2006.

 


Nenhum comentário: