09 junho 2008

Professor Emancipador

A relação ensino-aprendizagem é sempre nova: não há métodos, fórmulas e técnicas definitivos para ensinar, pois em cada um deles sempre encontramos aspectos positivos e negativos. A postura, a sagacidade e o carisma do professor também exercem bastante influência nessa relação. Entretanto, poderíamos perguntar: quando o professor ensina, o aluno realmente aprende? Pode haver ensino sem aprendizagem? E aprendizagem sem ensino, sem um professor? O que significa a palavra ensinar? E a palavra aprender? Rancière, em seu livro, O Mestre Ignorante, discute essa relação à luz da crítica filosófica.

Maître Ignorant conta a história de um professor emancipador, Josep Jacotot, quem, em 1818, enfrenta uma situação inusitada: seus alunos falam uma língua que ele desconhece (flamenco) e eles desconhecem a língua que ele fala (francês). O problema apresentado: como se comunicar sem signo? Contorna-o, porém, com a ajuda de um intérprete. Ao final, consegue que seus alunos aprendam por si mesmos a falar e escrever em francês. Conclui que os alunos aprenderam por si mesmos, mas não sem a presença de um professor. Daí, a dúvida: explicar é ensinar?

Diante desta questão, Rancière elabora a sua crítica da razão explicadora. Para ele, a explicação é a “arte da distância” entre o aprendiz e a matéria a aprender, entre o aprender e o compreender. A função do professor é diminuir essa distância; contudo, observa que a explicação, em vez de diminuir, aumenta a distância, e por várias razões, entre as quais, citamos: 1) o autoritarismo do professor explicador que sabe em relação ao aluno que não sabe; 2) o embrutecimento que decorre da explicação, pois tanto o professor quanto o aluno não se exercitam na emancipação do saber.

Rancière critica também o socratismo. O livro Menon, em que Sócrates ensina um caminho do saber ao escravo, é o seu ponto de referência. De acordo com Rancière, Sócrates embrutece o escravo, embora a sua ação se revista de uma aparência libertadora. Sócrates não estimula o escravo a buscar o saber por si mesmo, apenas permite que este chegue até onde Sócrates sabe. Em seus diálogos, Sócrates diz nada saber, mas quando formula as questões, ele quer que o interlocutor chegue até onde ele sabe. O mestre emancipador vai além da transmissão do conhecimento: permite que o aluno aprenda algo que não sabia no início da relação pedagógica.

O ato de ensinar deve ter como princípio a igualdade das inteligências. Ao admitirmos que, quanto ao pensar, todos somos iguais, estaremos respeitando tanto a nossa quanto a inteligência do nosso próximo. Com isso, todos estaremos mais capacitados para a obtenção do conhecimento, venha de onde vier. Se, ao contrário, supusermos que ensinar tem a ver com explicar, então estaremos embrutecendo e embrutecendo-nos, porque estaremos submetendo os outros às nossas explicações.

O professor emancipador deve ter em mente que todos aprendem pela experiência. Assim, convém que ele esteja sempre propiciando experiências de aprendizado aos seus alunos. Nada de trazer a resposta pronta. Cada qual que a busque por si mesmo.

Fonte de Consulta

KOHAN, Walter Omar. Sobre o Ensinar e o Aprender... Filosofia. In PIOVESAN, Américo et al. (org.). Filosofia e Ensino em Debate. Rio Grande do Sul: Unijui, 2002. (Coleção Filosofia e Ensino, 2).



 

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