27 junho 2008

Relação Ensino-Aprendizagem

Ninguém ensina ninguém? É possível o aprendizado? Está correta a frase de Kant em que afirma que não devemos aprender filosofia e sim aprender a filosofar? Há métodos de ensino? E de aprendizagem? Quem é que mais aprende: o professor ou o aluno? Ensinamos somente com as matérias expostas na sala de aula? Reflitamos sobre esse tema da atualidade didática.

Comecemos, primeiramente, com uma certa dose de desconfiança em relação à perfeita sintonia entre o ensino e a aprendizagem, ou seja, entre aquilo que ensinamos e o que o aluno aprende, entre o que transmitimos e o que aluno assimila. A comunicação interpessoal tem muitas barreiras: barulhos, distrações, ignorância do assunto, falta de interesse etc. Isso tudo impossibilita que a mensagem transmitida pelo emissor (professor) chegue inteira na mente do receptor (aluno).

A relação ensino-aprendizagem assemelha-se à Parábola do Semeador. Nessa parábola, contada por Jesus, o semeador saiu a semear: algumas sementes caíram à beira da estrada, outras entre os pedregulhos, outras no meio do espinheiro e outras em terra fértil. As sementes que caíram em terra fértil germinaram e deram frutos cento por um. Do mesmo modo são os ensinamentos: o professor transmite uma única mensagem; como há diversos tipos de cabeças, haverá diversos tipos de aprendizado. Somente a cabeça concentrada na mensagem receberá cento por um.

Um professor, quando prepara a sua aula, pensa na melhor forma de transmitir os seus conhecimentos. Ele planeja o seu roteiro, cria seus gráficos, elabora suas transparências e utiliza toda a sorte de recursos, para tornar o ensino o mais produtivo possível. Se, por outro lado, a cabeça do aluno estiver em outra dimensão, com certeza não atingirá o seu objetivo, porque o ensino foi transmitido, mas não houve recepção por parte do aluno. É por isso que não se pode confiar plenamente nessa relação cômoda de ensino-aprendizagem.

Para que tenha êxito em suas explanações, o professor não deve se colocar como o "sabe-tudo", aquele que é superior ao aluno. Convém partir de um não-saber, de um não-professor, a fim de que tanto um quanto o outro se empenhe numa espécie de "oficina de conceitos", onde, juntos, procurarão uma nova relação entre o ensino e a aprendizagem. Em pé de igualdade, haverá maior produtividade do ensino: muitas coisas que ele imaginava importantes deixam de ser e, muitas outras, que não dava importância acabam tendo.

Se há métodos para ensinar, não os há para aprender: o ensino é público; o aprendizado, pessoal. A aprendizagem depende muito do que o aluno já conhece, do seu interesse em aprender e da sua atitude frente ao conhecimento. É possível que, na educação voltada para a memorização, ele dedique pouco tempo na absorção da matéria; contudo, na educação voltada para o "conceito", ele pode se empenhar cem por cento. Uma árvore produz somente os frutos de que é capaz: um abacateiro só pode dar abacate e não uvas.

É preciso, pois, muita cautela, para transmitir com qualidade. Não nos esqueçamos de que os nossos gestos e a nossa conduta ensinam muito mais do que o discurso didático.

 

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